quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Transexualidade sem limites

Transexualidade sem limites


Lana Malone

"Um dia, todos entenderão que o sexo é relativo, mas a mente é absoluta!" Lana



Quero nesse texto procurar uma possibilidade de aumentar os limites da tansexualidade. É uma sugestão à classe médica e aos transgêneros para que mudem um pouco a interpretação do fenômeno transexualidade. Em primeiro lugar permito-me classificar as transexuais em três classes de fenomenologias. A primeira refere-se aos transexuais precoces ou de primeira instância. É um tipo de transexualidade que já aparece na primeira infância, com definição de comportamento e aparência. Um menino ou uma menina, do nascimento até cinco anos de idade, já vive uma vida transexual, e vive essa realidade com a aprovação plena dos pais e família, desenvolvendo sua personalidade e corpo num mesmo ritmo, só que, em forma de treinamento ou domesticação. De certo modo não são verdadeiros transexuais, pois foram desde cedo treinados como um "animal de circo", a fazer tudo aquilo que os pais e família queriam. Não sofrem problemas maiores, pois já são um menino ou uma menina quando chegam na adolescência. É nessa fase que surge outro limite da transexualidade, com a dimensão maior da consciência, e posterior opção do jovem sobre a sua definição sexual, caso seja uma transexual "de treino". Nesse momento, o adolescente pode até resolver não viver mais como transexual e redefinir o seu papel na sociedade. Vai ter que treinar forte o novo comportamento, pois já estava com uma situação muito bem definida. Acho bastante difícil esse jovem conseguir sucesso nessa mudança, se já chegou à adolescência com esse quadro tão bem estabelecido. Porém, pode ter chance de mudar, e virar o jogo. Terapia vai ser necessária, e toda uma ajuda familiar. Como sua transexualidade era um "aparato de treino", ele treinando tudo de novo ao contrário agora, definirá um novo papel e sairá da sua "pseudo-transexualidade" adquirida. Uma segunda classe de transexuais ou de segunda instância, são a meu ver os mais comuns. Surgem como transexuais tão logo faz 15 ou 16 anos, e se definem por essa opção pela vida toda porque tem de fato uma alma ou psique feminina, se sentem mulheres, querem viver como mulheres e ser logo que possível, uma mulher integral. Podem até não ter sido criado como menina (o), mas sua natureza e sua mente vão exigir esse papel. Passam por um pequeno período de confusão de identidade, uma leve neurose depressiva, e depois conseguem arrumar a casa por si mesma e, definem claramente o seu papel, assumindo sua identidade transexual. Esses transexuais são aqueles mais curtidos pela mídia e grande sociedade. Aparecem em revistas, cinema, TV, etc., como lindas "mulheres", de tremenda presença e charme. É a “Roberta Close” da vida, explodindo em sucesso e brilhantismo. De beleza incomparável, podem até ganhar concursos competindo com mulheres lindíssimas. Optam ou não por cirurgia de readaptação. Mas a verdade é que estas transexuais vivem a sua feminilidade plenamente, nunca experimentou em profundidade a heterossexualidade, e sem maiores conflitos, até casam e só não têm filhos por motivos óbvios. São literalmente, mulheres (ou homens). Parece, todavia, que a sociedade e a mídia, senão também as próprias transexuais dessa classe, esperam que a transexualidade se resuma tão somente nesse segundo tipo: as de exuberância e beleza incomuns. Ora, como ficam então as transexuais que saem desse "padrão" até discriminativo?! Vejamos na próxima categoria, como fica isso.



A terceira e última categoria de transexuais, os de terceira instância, são os mais raros e complicados. Aparecem tardiamente, após os trinta anos ou até bem mais, após os cinqüenta anos. São indivíduos que viveram uma heterossexualidade "de risco". De risco porque não eram heterossexuais verdadeiros, e se iludiram durante anos por vários motivos. Enganaram a si mesmos, tentaram de tudo para viver uma heterossexualidade imposta pela família e sociedade, temiam os riscos, mascararam tudo e... Acabaram casando, tendo filhos, formando lar e família. Contudo, lá pelos trinta anos, a diferença e a verdade começam a surgir e a se impor implacavelmente! Eles também pensaram que eram homossexuais ou travestis, durante um longo tempo. O casamento acabou em divórcio, e lá vão eles em busca de sua verdadeira identidade. É a transexualidade mais dolorosa e difícil que se vive, porque vêm junto a um arrastão de condicionamentos sociais e psicológicos. A pessoa fez história, construiu, e seu mundo capotou quase que de repente e precisa agora, mudar, mudar!. E logo! A transexual tardia vai precisar superar todas as barreiras imagináveis: a da família (seus filhos, esposa, pais, irmãos e parentes), do emprego (administração, funcionários, hierarquia toda enfim), da comunidade (vizinhança, bairro, conhecidos, grupos informais), das instituições (igreja, clubes, grupos formais), da grande sociedade (cidade, estado, país). Essa transexual que viveu uma vida fora (outsider) da sua realidade, vai ter muito trabalho para levar a cabo sua nova vida. Acho que uma grande maioria até desiste da empreitada, visto os grandes desafios a serem vencidos, sendo o principal, se já é de idade madura, sua própria aparência de "tia", "madame", "senhora", "mãezona", "balzaquiana", "coroa", etc. Suas rugas, face caída e cansada, pele sem viço, cabelos raros, entre outras coisinhas, funcionam como um balde de água fria nos intentos de mudança mais radical. Haja coragem para ir fundo e enfrentar tudo isso. Essa transexualidade tardia é acompanhada de outros fenômenos psicológicos da maturidade, onde complexos e dúvidas dão pouco espaço para uma vida transexual tranqüila e feliz. Entretanto, não é impossível superar a tudo isso, e sair por cima. O velho ditado "antes tarde do que nunca", para encontrar uma vida feliz, é super válido aqui. Desistir e ficar ruminando neuras é que não vale a pena. Bem amigas, quis aqui propor que se aumentem os limites da vida e opção transexual, sugerindo que não se coloque um marco para a vivência de uma transexualidade total. Seja a decisão com 5, 15, 35, 50, 80 ou mais anos, que se busque a melhor maneira de viver a transexualidade. Se o corpo já não é muito bonito, se a pele e o rosto estão cansados, se os cabelos não ajudam, se enfim, tudo joga contra uma transformação radical, que se lute assim mesmo até o fim, para sermos exatamente aquilo que mais gostaríamos de ser, em qualquer tempo, com qualquer idade, sob quaisquer condições! Não há limites para a experiência transexual, a não ser o estabelecido pelo nosso coração. Ame-se, cuide-se e viva a sua transexualidade já, pois o tempo é agora e o lugar é aqui! Não estamos em busca da beleza ou da perfeição física e, sim, da nossa verdadeira identidade, ainda que muitas vezes ela se esconda num vaso já gasto e quebradiço, ou numa taça fosca e riscada, mas que ainda pode servir os melhores e mais deliciosos vinhos!



Beijos sem limites

Lana Malone jmalone@onda.com.br

casadamaite@gmail.com

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